quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Lua dourada, Sol prateado.


A madrugada já invadiu completamente o meu quarto. Estou novamente sozinho. Já perdi a conta de quantas vezes estou sozinho. Talvez seja sempre. Bom, lutei tanto para ficar livre de meus pais, e agora que estou, parece que lutei por areia e pó. Realmente não encontro sentido na vida. Uma chuva fraca cai lá fora, mas não tão fraca quanto o meu estado de espírito.
Ganho a vida escrevendo. Como não achei sentido em viver, achei poesia em sentir. Sou um poeta. É assim que vivo...Dá para ser alguma coisa. Tenho um quartinho em um bairro central da cidade onde moro, não é muita coisa, mas para alguém que não consegue achar nem se quer o sentido para acordar, já está bom.
Uma vez eu achei que tinha encontrado o sentido de viver...e essa razão era translúcida como a água que dissolvi o pó do nescafé...
Foi há cinco meses atrás. Eu estava nessa mesma cadeira, digitando nesse mesmo computador. Matutava, pois precisava lançar o meu livro de estréia. O sustento, nem que fosse mínimo, não tinha mais o estágio e eu já havia torrado tudo com besteira. Mas não tinha inspiração. A lua era dourada e o sol prateado. As nuvens cinzas de poluição. Tudo estava de pernas para o ar. Nada tinha sentido. As tentativas todas foram falhas.
Então eu senti um sopro gelado na nuca, fiquei imóvel. Continue digitando. Depois um calafrio percorreu o meu corpo como um cavalo bêbado em uma pista de corridas ao sábado. Olhei para trás. E gostei do que vi:
Cabelos ruivos. Olhar passivo e azul. Lábios vermelhos como as unhas de uma prostituta, e o conjunto de tudo, belo como um amanhecer na beira mar. Então uma mulher em meu quarto. A primeira que não era uma garota de programa, talvez. Ela estava de pijama, fato que me agradou.
- Vai dormir comigo? – perguntei.
Nada.
Não me respondeu. Encarou-me como se eu não pudesse vê-la, então me aproximei. Eu já sabia do que se tratava. Não tinha bebido, não tinha fumado, não tinha feito porra nenhuma de errado. Ninguém poderia entrar no meu quarto, a não ser que tivesse a chave ou tivesse arrombado a porta. Nada disso aconteceu, aquela mulher só poderia ser um fantasma. Ou aparição, como queira. Nunca fui um estudioso do assunto...Tudo o que sei adquiri assistindo a filmes de terror.
Fiquei mais perto dela. Ainda tinha a impressão de que pensava que eu não a via. Mas por que me olhava tanto? Sentei em minha cama, que ela resolvera se apossar. Ainda imóvel como passantes que se fingem de estátua para ganhar algum trocado. Eu tentei tocá-la, mas minha mão atravessava. Tentava beijá-la. Sim, sentia uma grande vontade de pegá-la no colo e acariciar. De tê-la em minha cama, mas droga, ela já estava em minha cama! Mas eu não podia fazer nada, e isso me deixava em desespero. Estava me apaixonando por algo que não podia tocar. Era pior do que na quarta série, quando me apaixonei pelos cabelos de minha professora de Ciências. Mas como em tudo na vida tiramos proveito, eu a usei de inspiração. No meu âmago, era desesperador ver aquela pessoa e não poder conversar. Ao menos ela não respondia...Não poder sentir a altivez de sua pele em meus dedos...E ela não reagia. Apenas continuava a me olhar. Eu não saia mais de meu quarto, apenas escrevia. Me viciei em sua presença. E então produzi 89 poemas, todos inspirados nesse amor etéreo. Eu me sentia o próprio Baudelaire, de tão maldito. Então aconteceu o inesperado, com apenas esse livro, tão feito às pressas, tão loucamente descuidado, ganhei o prêmio Gato de Ouro. E com isso uma boa grana.
Mas a felicidade do poeta sempre dura pouco...
Fui receber meu prêmio. Amostrar quem eu era. Pois antes, era um completo desconhecido. Mas ao chegar em meu quarto, ela não estava mais lá. Sumira...
E então eu caí em uma crise...Será que ela se sentiu usada? Será que apareceu só para me inspirar e tirar da sarjeta?
Seja qual foi o objetivo daquela estranha mulher, eu devo tê-la decepcionado. Eu não agüentei ficar sem a sua companhia. Gastei todo o dinheiro em bebidas e em mulheres. Paguei as mais belas ruivas, mas nenhuma era como aquela. Procurei o lábio vermelho daquela mulher, mas só achei aquele vermelho nas unhas de todas aquelas prostitutas. Em menos de seis dias, todo o dinheiro havia acabado. Então voltei a ser como era antes.
Matutando de madrugada, sempre a procurar inspiração.
Hoje, refletindo sobre tudo isso (hoje começou agora? Não importa, nem sei.) e ponderando sobre a vida, bom, decidi que devo mudar de rumo. Acho que pararei de comprar nescafé, já está na hora de aprender a fazer café de verdade.


7 comentários:

Anônimo disse...

que vício em café u_u e a ruiva ficou puta e mandou-se embora AYSEGYEGY

CA Ribeiro Neto disse...

É a minha história futura, até antes da ruiva aparecer! É baitolagem demais esse negócio de inspiração aparecer sob forma humana!

Homi, gostei do jeito que escreveu, mas essa história já foi diversas vezes usada, literatura, cinema... já tem muito disso... Não gostei do que escreveu, mas gostei de como escreveu!

Abraço

Paulo Henrique Passos disse...

A última frase ficou muito massa, uma interessante alegoria da mudança de vida

Mehazael disse...

E aí, Hermes. Já q vc não faz mais updates no outro, mudei eu de blog. hehehe
Cara, eu gostei do texto como uma paródia (espero q seja isso mesmo). Bem divertida a "inspiração". e a frase: "Tudo o que sei adquiri assistindo a filmes de terror" achei hilária. Sério, comecei a rir sozinho. Mt divertido. Só achei q vc tem alguns problemas na escrita. Tem umas redundâncias aqui e ali, e um q outro pronome q nao aparece, mas nada demais.
Mas tb jah gostei mais de outros textos teus. Qd tem mais? hehehe
Abração!

Esyath disse...

Hermes,

a questão é que todos ao nosso modo... acabamos jogando fora sem percebermos aquilo que realmente nos é caro... e por vezes... eles continuam lá... nos inspirando... nos amando... nós é que com nossa arrogância... ou no meio do desespero... acabamos deixando de enxergar...

Beijos (Des)conexos!
www.historiasdesconexas.blogspot.com

Marcella disse...

Bem, pelo q li dos comentários. Com a sua licença, espero, nada mais tenho a dizer.
A não ser que o primeiro parágrafo lembrou-me um pouco as coisas que Pessoa pensava e que lá pelo meio fiquei mergulhando em Psique e Eros... A busca pela mulher que levou a encontrá-lo.
;)

bjinho

Anônimo disse...

Acho que o Carlim levantou pontos importantes, concordo com ele. Você escreveu muito bem um assunto já manjado, o que é bom - na minha opinião que, nesse caso, discorda do Carlete - pois você repintou um clássico (muitas vezes dito clichê) de uma forma nova, boa e agradável de se ler.

Abraços