Antes do conto:
Bom...por questões inexplicáveis a sequência de prosa - poesia aqui se acaba. Vai ter mais sequencia não, estou me divertindo mais com a prosa. Então lá sei quando postarei um poema de novo! (e também quando é poesia tem menos comentários, me parece que sou melhor prosista do que poeta...)
E o meu livro está terminado, mas me parece que as editoras não estão interessadas. Paciência, enquanto isso elas vão publicando os Crepúsculos da vida.
Seu Cosme
Na volta para casa, eu passava por um quiosque. Ele ficava na pracinha perto do campus da universidade. Quem estuda sabe que aula dá uma fome, então eu comia por lá.
E teve muitos dias em que encontrei por lá o Seu Cosme. Era uma figura interessante e cômica. Nunca tinha companhia, quando perguntei o motivo ele me respondeu com um sorriso infantil no rosto:
De infantil ele só tinha o interior. Em aparência tinha lá os seus cinqüenta anos. Concluir que o senhor não era morador de rua. Sempre estava impecável no visual, parecia um janota.
Eu sempre estou atolado de trabalhos na faculdade, cursos de línguas no período da tarde e ainda tenho cursinho para o TRE, e definitivamente tudo poderia sair da minha boca no momento, menos falar que a vida é uma maravilha. Talvez foi isso que me chamou atenção no maduro, possivelmente ele teria mais experiência e coisas a ensinar.
- Família é uma ótima coisa. Eles que pagam tudo para mim.
Essa revelação me deixou confuso. Não sabia o que perguntar, mas mesmo assim perguntei:
- O senhor não trabalha?
Ele desviou os olhos de mim. Olhou para o céu.
- Tá calor aqui. Acho que vou indo. Quando fica quente assim eles vêm me procurar. Estão querendo me internar, que loucos!
Seu Cosme partiu então. Eu já sabia que ele todo dia ia embora nessa hora. Com alguns dias de conversa descobri que ele não era normal. Era biruta. Tive a oportunidade de ver um fantasma que veio procurá-lo.
- Não consigo entender. Você sempre foge para esse lugar.
No outro dia me encontrei com o Seu Cosme e ele estava chateado, mas só um pouco. Chateado como as pessoas que estão jogando um jogo de azar e ganham várias partidas seguidas, e só para se lembrarem que são humanos, perdem umazinha. Só um abatimento piegas.
- Essa minha filha não deixa eu viver, também. Fica dizendo que eu sou louco, e que não quer me internar, mas vai. Ela não vai! Não tem coragem, ainda bem que me ama.
- Você é louco, Seu Cosme?
- Ah, claro. Louco é que não quer ser louco, filho.
- Desculpa, mas eu não entendi.
- Eu não pago IPTU, não pago conta de telefone, não preciso passar horas me preocupando com papeladas. Minha esposa é juíza, ela pode pagar tudo! Dá tudo do bom e do melhor para a minha menina. E como eu sou louco, também ganho uma ajudinha da mulher.
- Então elas devem te amar mesmo.
- Minha filha sim, minha mulher me odeia tanto que já me largou. Era melhor com ela, tinha mais dinheiro. Filho, você nunca pensou em enlouquecer? Todo mundo cuida de você, não deixam você trabalhar. Eles alegam que você não tem condição de se relacionar. Isso é uma maravilha! Sinceramente, ficar louco foi a coisa mais certa que fiz em toda a minha vida. Sem preocupações.
- Olha, você me parece bem normal. Só percebi que tem problemas quando sua filha chegou, assim quando ela chega você muda de comportamento.
- Eu só sou louco na frente dos meus chegados. Você bem que podia ser louco também, olha, aí vem ela.
Seu Cosme começou a se despir e correr.
A menina disse isso chorando, mas pela primeira vez não tive pena dela. Pensava no que o velho tinha dito. Fui pra casa.
No caminho decidir ficar louco também, aquela pilha de preocupação não podia continuar.
Meu pai estava de mãos dadas com a minha mãe, ele falava que a amava e choravam. Não perceberam minha presença, mas sem cerimônia cheguei:
- Mais contas para pagar?
- Sim filho.
- Amo vocês.
Saí de lá e fui ao meu quarto. Liguei o computador e comecei a digitar. E estou fazendo isso até agora, encontrei o meu sentido para viver. Escrever! Não tem coisa melhor, nem enlouquecer. Ah, e o Seu Cosme foi finalmente internado. Mas acho que aquele ali só pensa em si, não vai ficar bom é nunca.
4 comentários:
ahaha
ótimo!!
conheço muitos jovenzinhos que se fingem de louco por aí... =p
ai ai, a loucura...
Cara, se eu fosse egoísta eu também fingiria ser louco. É mais prático para a gente, apesar de ser mais trabalhoso para os outros. E se eu for fazer isso um dia, farei que nem ele: casarei com alguém primeiro... heurheurhueh
Eu também já decidi que serei prosista. Poeta só por hobby (sei la como se escreve isso). Acho minhas prosas bem melhores que as poesias.
Abraço
Se bem que o escritor literário é, de alguma forma, um louco, que enxerga e imagina coisas que só ele vê.
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