(AVISO: Conto trash baseado em fatos reais. Qualquer semelhança com a realidade não passa de apenas uma brincadeira do acaso.)
Dia do silêncio no condomínio.
Um nome irônico para o dia em que era permitido o som alto para os filmes. Não tinha limite para a zoada, podia-se fazer barulho até às cinco horas da manhã, mas os jovens faziam sempre até às oito.
Os mais velhos odiavam esse dia, geralmente viajavam para ficarem bem longe da bagunça, que era justamente nas épocas de férias.
Os pais de Bruno estavam viajando. Bruno estava se sentindo solitário. Resolveu chamar uns amigos para madrugar em sua casa: Paulo, Godoia, Joana e Eduardo. Ainda bem que os pais não estavam em casa! Poderiam ver filmes na TV de plasma. E foi o que fizeram. Compraram seis pizzas grandes e alugaram filmes.
Exatamente à meia noite estavam assistindo: ESTA NOITE ENCARNAREI NO TEU CADÁVER. O filme foi motivo de chacota, pois os efeitos toscos para o nosso tempo e a imagem em preto e branco faziam com que ficasse difícil de levar-se o filme a sério. No fim, resolveram descer. Ficaram no parquinho do prédio. E as horas foram voando, sem com que percebessem. Na verdade, tinham descido mesmo para se encontrarem com a Mariana. Principalmente Godoia, que estava interessado nela há tempos. Mas a menina não descera, soltara uma fraca desculpa. Alegava que não poderia descer por causa da hora, mas seus pais também estavam viajando. Para aproveitarem o fato de já estarem lá, deitaram-se na grama e ficaram a admirar o céu. Paulo brincava com a filmadora que tinham levado. “Caso apareça algum OVNI”
- Que tédio...tô com preguiça de subir e assistir os outros filmes. Seria legal se acontecesse alguma coisa, como algum Tomate assassino, ou homens lesmas mutantes. – falava Godoia seriamente, por incrível que pareça.
- Arff, cara. Para de ver esses filmes trash. Seria melhor algo mais lógico...como alienígenas cientistas... – entrava no diálogo Paulo.
- Ou Zumbis do Espaço! Que nem a banda, a banda é irada cara. – interrompia Eduardo.
- Eu não sei o que estou fazendo com vocês, seus doidos. Quanta criatividade... – dizia Joana, lentamente e com preguiça com seu sotaque baiano.
- Também não sei. A gente te chamou para te comer. – falava Bruno, finalmente.
- Tomates assassinos são legais...Vocês que não apreciam à arte do horror moderno! Mas comer a Joana seria legal.
- Haha! Moderno nada, cara. Isso é do tempo da minha vó, e olha que ela é dos anos 50... Comer a Joana? Eu não, estou comprometido. E esquece os tomates Godoia, o lance agora é ficção científica, muito mais massa cara.
-Vocês ficam brigando aí que eu vou ali acochar a Joana! Seus maricas.
- Mongol, sonha! Sai fo...
- UM OVNI! FILMA! FILMA!
Paulo gritava feito um doido. Apontava para o céu, um pontinho de luz branco se mexia em meio às nuvens.
-Caralho! Eu que tô com a câmera, como sou burro.
Pegou a filmadora e passou a filmar.
- Como você sabe que é um OVNI? Pode ser Vampiros espaciais. Já vi um filme que...
- Qualê Eduardo! Se toque. Vampiros do espaço é o meu ovo. Aposto que não é nada...vamos subir. – Bruno estava calmo.
- O Paulo, Godoia e o Eduardo estão parecendo duas criancinhas afoitas e medrosas. Haha! Nem eu fiquei com medo. – brincava Joana, mas olhando para o objeto luminoso.
- Eu não falei nada ainda..Por mim não são OVNIS nem Vampiros do Espaço, são seres intraterrenos conquistando o espaço.
- Vocês são uns maconheiros! Vou subir e assistir algum filme, bora Bruno, quem sabe não rola o que você queria lá em cima?
- Opa, na hora.
- Ah, também vou subir. Quero ouvir Zumbis do Espaço. – Eduardo ia acompanhando os outros dois que subiam, deixando Godoia e Paulo sozinhos. – Caminhando e matando, tudo que eu for encontrando, mato tudo e mato todos onde eu vou! – ia cantarolando.
- PUTA QUE PARIU! Sumiu! Do nada, eu tava filmando, e bufo! Desapareceu.
- Anh? Eu não vi nada. Olha, ao menos isso tirou o meu tédio...Vamos subir?
- Pode ser, mas fiquei com medo cara. Sério!
- Tu és um covarde, Paulo.
- Se fuder, má. Bora subir logo, no quero perder o filme, e o Eduardo que vá tomar no cu, ele no vai ouvir Zumbis do Espaço não.
Viram mais um filme.
Estavam começando a ficar com sono, era 3 da madrugada. Aceitaram com que Eduardo colocasse Zumbis do Espaço para tocar. Ficaram conversando.
- Então Godoia, vai ou não vai pegar a Mariana?
- Sei lá, menina só enrola...
- Tô achando que é doce mesmo. Coisa de mulher, quem pode responder isso é a Joana.
- É o que rapazes? Não tô ouvindo é nada...Tanto sono. Estou começando a achar que foi uma péssima idéia ter vindo. Se eu dormir aqui, acordo toda arromba.
- Que nada, meu pau é pequeno. – falou Bruno inesperadamente.
- Porra! Haha! Melhor irmos dormir. O Bruno já começou a falar merda de novo.
- Podem ir, vou ficar ouvindo Zumbis.
Ding-dong.
Toque da campainha? Quem era o doido de tocar uma campainha em plena madrugada! TRÊS DA MANHÃ.
- Ei...Fala sério, quem é que ta vindo para a minha casa numa hora dessa? Vou abrir não. Só pode ser merda isso.
- Não abra! – dizia Joana.
- Cara, não sei como é que essa porra não tem olho mágico...É melhor abrir, vai que são os seus pais.
- Se for, fudeu, caralho! Eu nem disse que vocês vinham para cá.
- O Eduardo aqui acha que você deve abrir.
- E o Paulo não sabe de nada.
- Eu acho que a gente vai morrer. – dizia Godoia.
- Ta, galera, vou abrir.
Bruno tocou na maçaneta. Ah, droga! É lógico que estava trancada. O nervosismo estava deixando-o burro. Colocou a chave apressadamente na fechadura. Suspirou. Passou as mãos nos cabelos, estava transpirando. Girou a chave. Um estalo avisando que a porta estava sendo destravada. Agora sim, girou a maçaneta. Puxou a porta, e pronto. Porta aberta.
Não sabiam se era o efeito de ter passado a madrugada comendo porcaria e assistindo besteira, se era o sono, ou se era verdade. Mas estava na entrada uma coisa. E era grande, muito maior do que todos que estavam ali. Tinha uns dois metros de altura! Usava um troço, parecia uma espécie de armadura. Poderia-se pensar que fosse um homem tentando se proteger de armas biológicas, mas era muito estranho. Cor azulada, músculos, muitos músculos. Capacete. Olhos vermelhos. Machado na mão. Cabelos longos e pretos. Machado? Sim! Ele estava segurando uma porra de um machado! Ao menos parecia um, mas um bem bizarro. O que ele queria com aquilo?
- Sony DCR SR45/SR-45 HD 30 GB – saia uma voz metálica da criatura tosca. Ele esticava a mão para Paulo, mas Bruno estava no meio.
- É a nossa câmera! Ele quer! O que esse cara quer com ela?
- É...n...não, s..ei. Mas dá logo! – falava baixo Joana, o medo estava estampado em seus olhos.
- É, cara. A filmadora está ali...
Enquanto Bruno falava, virou de costas para o ser e tentou caminhar à sala. Mas a criatura o impedira. Ou melhor, o matara.
Um golpe certeiro com o machado. A cabeça de Bruno voando, o corpo jorrando sangue e molhando a todos. A cabeça pousando nas mãos de Joana. Joana entra totalmente em pânico, arremessa a cabeça do amigo e passa a correr, tenta pegar o elevador. Aperta o botão. Ela estava no décimo, o elevador estava no térreo. Correu para as escadas.
Em passos calmos, a criatura fechou a porta. E ficou do lado de fora.
Os outros, que ficaram no apartamento, estavam estáticos. Ainda paralisados pelo choque de ver a cabeça do amigo ser degolada. E em 3D! Faria o comentário o nerd mais sádico e estúpido do planeta, mas nenhum dos que estavam ali fizeram o comentário. Eduardo, quando saiu do choque, foi ao quarto de Bruno, pegou uma picareta que Bruno guardava no guarda-roupa. Não sabia porque o amigo guardava aquilo ali, mas sabia que ele guardava. Foi correndo para fora, lembrando-se da amiga que estava sozinha com a criatura.
Paulo foi procurar a filmadora.Não estava achando!
E Godoia já estava tentando abrir a porta. Queria ao menos tentar ajudar a amiga. Mas estava trancada! Não sabia como! Mas não estava preocupado com a lógica naquele momento. Um trecão azul acabara de matar o amigo com um machado bizarro, não parecia nada lógico isso, e estava acontecendo. Então que se foda a lógica!
Joana começou a descer os degraus desesperadamente. Gritava, mas parecia que ninguém a ouvia. Muitos jovens faziam barulho nessa hora, provavelmente os seus gritos de horror estão sendo confundidos por gritos de algum filme de terror B.
O assassino ainda muito calmo mexeu o que devia ser o pescoço, estalando-o. Então, passou a correr também. Em menos de um segundo, já estava com os braços cravados no peito de Joana. A socara com tanta força que varou o seu corpo. Mas uma testemunha de sua presença morta. Voltou ao apartamento. Chutou a porta, sem muito esforço, e ela voou. Estava tudo escuro, nenhum sinal dos outros garotos. Entrou.
- Sony DCR SR45/SR-45 HD 30 GB
Nada. Só o barulho um pouco distante de outros loucos ouvindo música.
Mas Paulo interrompeu o pseudo silêncio. Estava mais uma vez estático olhando para o amigo. Godoia estava morto também. O coitado estava na porta tentando abri-la. Porém, um pedaço de madeira despedaçada penetrara em seu pescoço quando o monstro chutou a porta. Paulo já estava com certeza de que morreria, então quebrou mesmo a agonia e falou:
- Ok. Você só quer a filmadora, né cara, certo. Toma.
A armadura azul ambulante pegou a filmadora e virou-se.
- Antes diga o seu nome. Quero saber o nome de quem matou os meus amigos...
- Zeius.
Eduardo apareceu do nada. Corria com uma picareta na mão. Paulo saiu do caminho. Só depois percebeu o que o amigo pretendia.
- Não faz isso cara! Ele já vai, ele já vai!
Mas era tarde.
Zeius pregou o machado nas gostas. Desviou-se do golpe de picareta do jovem em fúria com um jato inexplicável para frente. Colocou a mão esquerda nas costas, e de lá tirou um martelo enorme. Devia ser do tamanho da metade dele. Tudo era tão rápido e surreal que não havia tempo para se pensar. Em alguns segundos Zeius esmagou a cabeça de Eduardo com o martelo. Mais sangue se alastrando pelo chão alvo.
Virou-se e sumiu. Simplesmente sumiu. Sem nenhum vestígio.
Paulo começou a chorar. Todos mortos, ele deveria ter morrido também. Como viver sem eles? Como explicaria aquilo? Provavelmente seria apontado como o culpado da morte dos amigos. Ninguém acreditaria naquilo...ET, Zumbi de armadura, ora essa! Conta outra.
Lágrimas. Desespero. Viu uma luz vermelha piscando. Vinha de um pontinho. Parecia um ímã pregado na geladeira. A freqüência do barulho aumentou. De repente, mas nada do prédio restava.
Explosão. Tudo voava em estilhaços de concretos. Uma língua de fogo cortava as nuvens.
Zeius estava em sua nave, já muito longe da Terra. Sorriu. Apagara em definitivo as evidências de que estivera na Terra.
3 comentários:
hahahahahhaha quanta imaginaçaoo adoreiii
"E em 3D!"
melhor parte! oaehoahe
Maravilhoso =O o realismo inserido é incrível, me pergunto se foi inspirado em algum fato ocorrido!
Postar um comentário