sexta-feira, 18 de julho de 2008

A pá.

-Eu tenho certeza de que é aqui.

-Tem mesmo, homem de Deus?

-Tenho sim. Ao menos foi esse endereço que ele tinha dado para uma amiga no orkut.

-Safado... É hoje que ele vai vê. Porra! Acho que bebemos de mais.

-Obviamente. Estamos bêbados. Pois estamos aqui.

-Claro que estamos aqui. Se eu estou aqui na frente da casa desse corno, e você ta aqui do meu lado, estamos aqui. Conclusão: a cachaça ta fazendo efeito. Vai ter coragem mesmo de apagar o cara? Não acredito que você me convenceu a fazer isso.

-Vou matar ele sim. Não mandei bulir em mulher que eu quero pegar, eu que a amo de verdade. Matando ele vai ser uma forma de demonstrar o meu amor.

-Cara, você ta melado.

-Você também.

- Gol de quem?

-Ah... Vamos logo tocar a campainha.

-Ei, a gente vai matar ele e tocar a campainha?

-Vamos matar ele. E não assaltar, burro.

-Ah...Mundo moderno.

-Tem que ser bem feito. Ta com a pá aí?

-Sim.

-Mas pera...Vamos fazer ele abrir a porta e depois? Ele vai ver duas pessoas que nunca viu na vida, um com uma pá na mão e o outro com um rádio portátil. Aliás, para que tu trouxeste essa porra?

-Jogo do Ceará já, já, homem.

-Puta que pariu, você é louco.

-Se a gente fosse normal, não estaria aqui.

-Chega. Tô tocando a campainha. Cara, a tua voz ta tão igual a minha que eu não sei quando é que eu tô falando, ou quando é você.

Ding-dong.

Nada. Ninguém abriu a porta.

-O cara é o maior pinguço, tinha esquecido disso. Obviamente numa hora dessas deve ta bebendo no bar.

-Mas a luz ta acesa.

-Bom, ele pode ta apenas tomando banho com a luz acesa.

-Então ta em casa, né caralho!

-Ah, é mesmo. Mas banho na sala? Depois eu que sou o bêbado.

-...Acho que esse não vai ser o assassinato perfeito.

Tocou na campainha novamente. Nada. Ninguém abre.

-EI, ABRE ISSO AÍ, PORRA.

-Isso, chama atenção! Vai assustar o cara.

-Mas a gente não ia chegar educadamente tocando a campainha? Gritar é a mesma coisa.

-Ah, quer saber de uma coisa, vou arrombar isso.

O jovem pegou a pá e tacou na porta. Fazendo o cabo se soltar da outra parte.

-Puta que merda. Ta blindada a porta.

-MAS TAMBÉM, ARROMBAR UMA PORTA COM UMA PÁ!

-O que tem? Agora fiquei puto.

Deu dois passos para trás, depois um trote para frente. E pronto. Estalou o ombro na porta. Sentia muita dor.

-Ai! Essa doeu até em mim. Cara, ele não ta aqui. Deve ta em outro canto. Vamos embora.

-Porra, ninguém pode nem matar um cara em paz. Esse país ta cada vez pior. Se o Brasil não fosse tão violento a gente não precisaria ter portas blindadas e muros altos!

-Sim, mas e onde é que os cachorros de guarda morariam?

-Na casa do caralho.

Estavam no bar novamente.

Agora bebiam mais cerveja. Um terceiro havia se juntado aos dois. Conversavam sobre mulheres. Até que:

-Então, me diga, o que você faz com esse pedaço de pau?

-Eu ia matar um cara. Um merda que ta querendo a mesma mulher que eu, haha!

-Muito engraçado! Você daria para piloto, sério. Burro! Qual piloto, qual nada! Quis dizer comediante.

-Piloto é! Mas é parecida com comediante a carreira. Esses palhaços que são fantoches dos poderosos e opressores usam os esportes para manipularem as pessoas. Deixando-as cada vez mais encurraladas no desespero da vida. É um teatro! Comediante faz o mesmo.

-Faz sentido, faz sentido...Mas acho melhor deixar vocês dois a sós. Tomem cuidado colegas! Vocês estão podres de bêbados.

-Calmo ai! Diga ao menos o seu nome antes de partir. Você foi o nosso melhor amigo nesse instante de vida.

-Ah! Meu nome é Dário, prazer. Fui!

-Tchau, cara.

-Caralho porras! O cara que a gente ia matar não se chamava Dário?

-Ah porra! Aquele merda cortou o cabelo então! Mas por que? Ele nem nos conhecia! Não tinha como suspeitar de nada.

-Quando se visita o profile no orkut fica o nosso nome lá, ora! Ele deve ter bulido no nosso também!

-Não...Ele não suspeitava de nada. Se suspeitasse não tinha bebido com a gente.

-Era enorme o cabelo. Provavelmente pegou piolho e teve de cortar então.

-Vamos voltar lá na casa dele e apagá-lo, agora!

-Vamos! Da raiva que eu tô aqui eu mataria até um leão só na mordida.

Levantaram-se. Pagaram a conta. Andaram mais ou menos uns três passos. E bufo, tombaram no chão. O homem, o outro homem e a pá quebrada.

No outro dia estavam acordados na cama de um hospital. Ficaram muito felizes com a seguinte notícia que tinha no jornal:

-Jovem morre afogado no próprio vomito em sua casa. Apagou depois de ter bebido alguns litros de cerveja em um bar. Peritos acham que o homem escorregou em uma espádua que estava na entrada de sua moradia. Desmaiou, depois acabou vomitando e se afogando no próprio vómito. Trágica morte!

Um comentário:

Heiliger Geist disse...

foi tudo armado.

Um Crime de Mestre. ;D