-Eu tenho certeza de que é aqui.
-Tem mesmo, homem de Deus?
-Tenho sim. Ao menos foi esse endereço que ele tinha dado para uma amiga no orkut.
-Safado... É hoje que ele vai vê. Porra! Acho que bebemos de mais.
-Obviamente. Estamos bêbados. Pois estamos aqui.
-Claro que estamos aqui. Se eu estou aqui na frente da casa desse corno, e você ta aqui do meu lado, estamos aqui. Conclusão: a cachaça ta fazendo efeito. Vai ter coragem mesmo de apagar o cara? Não acredito que você me convenceu a fazer isso.
-Vou matar ele sim. Não mandei bulir em mulher que eu quero pegar, eu que a amo de verdade. Matando ele vai ser uma forma de demonstrar o meu amor.
-Cara, você ta melado.
-Você também.
- Gol de quem?
-Ah... Vamos logo tocar a campainha.
-Ei, a gente vai matar ele e tocar a campainha?
-Vamos matar ele. E não assaltar, burro.
-Ah...Mundo moderno.
-Tem que ser bem feito. Ta com a pá aí?
-Sim.
-Mas pera...Vamos fazer ele abrir a porta e depois? Ele vai ver duas pessoas que nunca viu na vida, um com uma pá na mão e o outro com um rádio portátil. Aliás, para que tu trouxeste essa porra?
-Jogo do Ceará já, já, homem.
-Puta que pariu, você é louco.
-Se a gente fosse normal, não estaria aqui.
-Chega. Tô tocando a campainha. Cara, a tua voz ta tão igual a minha que eu não sei quando é que eu tô falando, ou quando é você.
Ding-dong.
Nada. Ninguém abriu a porta.
-O cara é o maior pinguço, tinha esquecido disso. Obviamente numa hora dessas deve ta bebendo no bar.
-Mas a luz ta acesa.
-Bom, ele pode ta apenas tomando banho com a luz acesa.
-Então ta em casa, né caralho!
-Ah, é mesmo. Mas banho na sala? Depois eu que sou o bêbado.
-...Acho que esse não vai ser o assassinato perfeito.
Tocou na campainha novamente. Nada. Ninguém abre.
-EI, ABRE ISSO AÍ, PORRA.
-Isso, chama atenção! Vai assustar o cara.
-Mas a gente não ia chegar educadamente tocando a campainha? Gritar é a mesma coisa.
-Ah, quer saber de uma coisa, vou arrombar isso.
O jovem pegou a pá e tacou na porta. Fazendo o cabo se soltar da outra parte.
-Puta que merda. Ta blindada a porta.
-MAS TAMBÉM, ARROMBAR UMA PORTA COM UMA PÁ!
-O que tem? Agora fiquei puto.
Deu dois passos para trás, depois um trote para frente. E pronto. Estalou o ombro na porta. Sentia muita dor.
-Ai! Essa doeu até em mim. Cara, ele não ta aqui. Deve ta em outro canto. Vamos embora.
-Porra, ninguém pode nem matar um cara em paz. Esse país ta cada vez pior. Se o Brasil não fosse tão violento a gente não precisaria ter portas blindadas e muros altos!
-Sim, mas e onde é que os cachorros de guarda morariam?
-Na casa do caralho.
Estavam no bar novamente.
Agora bebiam mais cerveja. Um terceiro havia se juntado aos dois. Conversavam sobre mulheres. Até que:
-Então, me diga, o que você faz com esse pedaço de pau?
-Eu ia matar um cara. Um merda que ta querendo a mesma mulher que eu, haha!
-Muito engraçado! Você daria para piloto, sério. Burro! Qual piloto, qual nada! Quis dizer comediante.
-Piloto é! Mas é parecida com comediante a carreira. Esses palhaços que são fantoches dos poderosos e opressores usam os esportes para manipularem as pessoas. Deixando-as cada vez mais encurraladas no desespero da vida. É um teatro! Comediante faz o mesmo.
-Faz sentido, faz sentido...Mas acho melhor deixar vocês dois a sós. Tomem cuidado colegas! Vocês estão podres de bêbados.
-Calmo ai! Diga ao menos o seu nome antes de partir. Você foi o nosso melhor amigo nesse instante de vida.
-Ah! Meu nome é Dário, prazer. Fui!
-Tchau, cara.
-Caralho porras! O cara que a gente ia matar não se chamava Dário?
-Ah porra! Aquele merda cortou o cabelo então! Mas por que? Ele nem nos conhecia! Não tinha como suspeitar de nada.
-Quando se visita o profile no orkut fica o nosso nome lá, ora! Ele deve ter bulido no nosso também!
-Não...Ele não suspeitava de nada. Se suspeitasse não tinha bebido com a gente.
-Era enorme o cabelo. Provavelmente pegou piolho e teve de cortar então.
-Vamos voltar lá na casa dele e apagá-lo, agora!
-Vamos! Da raiva que eu tô aqui eu mataria até um leão só na mordida.
Levantaram-se. Pagaram a conta. Andaram mais ou menos uns três passos. E bufo, tombaram no chão. O homem, o outro homem e a pá quebrada.
No outro dia estavam acordados na cama de um hospital. Ficaram muito felizes com a seguinte notícia que tinha no jornal:
-Jovem morre afogado no próprio vomito em sua casa. Apagou depois de ter bebido alguns litros de cerveja em um bar. Peritos acham que o homem escorregou em uma espádua que estava na entrada de sua moradia. Desmaiou, depois acabou vomitando e se afogando no próprio vómito. Trágica morte!
Um comentário:
foi tudo armado.
Um Crime de Mestre. ;D
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