Para todos os professores de gramática
A criatura quase homem caminhava toscamente, ora se curvava, ora andava ereta. De vez em quando coçava a barba longa e robusta, ou para simplesmente se divertir ou para tirar os bichos que assistiam ali.
Pela primeira vez alguém percebeu que o olhar daquele homem, quase por inteiro criatura, bicho, estava irritado. Não simplesmente ódio, porque ele queria fazer algo mas não sabia como. Infelizmente, o alguém que percebeu isso, percebeu de uma maneira confusa e abstrata. E esse alguém esqueceu essa percepção que estava lhe dando um nó na cabeça e foi brincar com a sua própria barba robusta.
O homem bicho avistou uma caverna. Ou ao menos um monte de pedra com um buraco escuro no meio, que ele sabia captar que era um local bom para se dormir e para se achar a maneira de perpetuar a espécie. Ele entrou na caverna, e como esperava, encontrou uma mulher, quase inteiramente bicho. O homem, ainda bestial, não queria fazer aquilo como fez da última vez. A última já o tinha deixado mais confuso ainda. Ele não queria ter que rebolar uma pedra na cabeça da outra fera e depositar o seu sêmen. É, ele tinha feito isso semana passada, e na anterior, e assim sucessivamente. E sempre com essa mesma mulher criatura, que insistia em ficar nessa caverna. Talvez não quisesse sair mesmo dali.
O bicho ficou olhando para a fera quase mulher por alguns minutos, dois ou três. Ele perdeu a paciência. Queria fazer algo, queria entender algo, mas não podia. Queria saber como conseguira cruzar com a mesma da sua espécie por várias vezes. Cansou de tentar fazer algo, e apenas fez o de sempre. Mas dessa vez não usou pedra nenhuma, ao se aproximar a mulher, ainda muito animalesca, mas menos do que da semana anterior, fez uma posição amigável ao sexo. Então os bichos bestiais quase humanos se enrolaram ali, sem precisar de violência.
Mais uma vez, ao terminar, o homem bicho ficou pensando por dois ou três minutos. Parece que ele já tinha percebido o que queria. Desejava se exteriorizar. Acho que ele queria dizer:
- Eu te amo.
Mas a linguagem não havia sido inventada ainda. O homem bicho se cansou e saiu para caçar. Ele teria que esperar mais alguns milênios...
8 comentários:
caralho, conto muito doidoh!
e muito deizano tb!
axo q muitos de nós ainda estamos nesse estagio de quase fera...
muito bom mesmo Hermes!
eita... Cabeça aí se entregando xDD
alguns aprenderam também a se utilizar da linguagem mas da boca pra fora :p
belo conto beijo!
todo antropológico e tal xD
E mesmo com tantos idiomas, ainda não é o suficiente pra se explicar tudo o que se sente. =/
É, também tem isso de ser da boca pra fora. Linguagem usada para iludir, enganar, mó paia. Controlar as massas e monopolizar. xD É uma faca de dois gumes.
O que não é um faca de dois gumes?
Enfim, obrigado pela homenagem, apesar de não entendê-la!
Que é que isso tem haver com professores de gramáticas.
O conto tá muito massa!
Nenhuma língua consegue dizer tudo!
Cara, entendo a questão do conto e da linguagem, que nunca diz tudo o que queremos dizer. Infelizmente.
Contudo, e isso acho interessante, no ramo da linguistica, ninguém estuda a lingua como algo criado posterior ao homem. Não, a lingua é vista, no mínimo, como algo que sempre o acompanhou. Afinal, todos nós nascemos em meio ao idioma (seja inglês, francês, português, russo, suahili, etc), e não faz sentido separá-los. O que dizem é justamente que, desde o homem, há lingua. Como esse aí é meio besta, vai saber? hauehauheuheueh
Disso tudo isso só pra me mostrar um pouco e dizer que gostei, viu? Tá massa. Abração! hauheauheuheeuha
mew...
fiquei sem palavras... o.o''
A questão, no caso, é que a língua é natural ao ser humano; como a matemática, de certa forma. A matemática foi "inventada", mas ela continua funcionando mesmo sem a intervenção do homem. No caso, a língua foi "inventada" pelo homem, mas ela não é propriamente inventada ou modificada por ti, sozinho. Tu só tem a tua língua por morar no Brasil no ano 2000, por exemplo. Se morasse em outro lugar e em outro tempo, teria outra língua. Me fiz mais ou menos claro? Sua evoluação é "tengente" ao homem. É impossível estudar o homem sem uma língua (ou forma de linguagem, que seja). Há teorias que dizem, inclusive, que falar é apenas uma das funções da língua, e talvez nem seja a principal. Ela muda e evolui, "auxiliada" pelos usuários, mas apenas em conjunto. Ou alguma pessoa sozinha consegue fazer uma revolução na linguagem? Sozinha, não, por n fatores. Sejam pressões sociais, preguiça de mudar, vontade de permanecer, etc.
Assim como hoje não se "inventa" línguas (exceto as artificiais, como o esperanto, que ninguém fala; ao menos não naturalmente), o que pode ter acontecido é sua natural evolução. À medida em que o homem (como espécie) foi evoluindo, também a língua foi se desenvolvendo. E muitas vezes devido à necessidade externa, e não pela "criatividade" pura.
Claro, a língua depende da criatividade dos falantes, isso é inegável, mas sua criatividade é posta à prova diante de fatores externos ou internos, ou situações criadas pela própria lingua, etc. Fui claro ou isso está confuso?
Fato é que, hoje, todos nós recebemos essa lingua quando nascemos. Fazemos parte dela, e ainda nos esforçamos para usá-la "corretamente" (embora a discussão sobre o que é ou não correto ainda seja longa). Acho que falei demais. Posso indicar alguns livros a respeito, se tiver curiosidade.
Mais alguma questão, alguma dúvida (tenho medo de não ter sido tão claro quanto gostaria), só me falar. heheh
Abração!
Cara, tava lendo o teu comentário no meu post, e não entendi o que vc quis dizer com: "As formas de comunicação são inerentes a qualquer ser vivo mesmo, agora a língua, falada e/ou escrita não acredito que sempre foi do homem não". Como assim, "não acredito que sempre foi do homem não"?
Sinceramente, não entendi. Contudo, acho que posso me explicar melhor. Talvez tenha a ver com isso que você está dizendo. O que eu disse é que as pessoas pensam como se a língua fosse algo como: "o que é aquilo? Vou chamar de pedra. Isso, vou chamar de árvore. Aquelas lá vão ser estrelas. Etc", como se uma língua fosse só uma coleção de palavras inventadas, cada uma com as suas. Só que a língua tem, entre outras coisas, uma estrutura adjacente, com regras próprias e que regem o seu funcionamento. Como sabemos, por sermos falantes nativos, o português é extremamente flexível e permite deslocamento de praticamente qualquer sintagma (uma unidade de sentido, de certa forma) para qualquer lugar da oração. Já outras línguas não usufruem dessa flexibilidade (como o japonês, que coloca o verbo no final da frase, e aglutina tudo nele).
Essa estrutura, por exemplo, nós "recebemos" de nossos antepassados quando aprendemos a falar; nós não desenvolvemos isso. Pelo contrário, obedecemos fielmente essa ordem, pois corremos o risco de não sermos entendidos se não a seguirmos corretamente.
Era sobre isso que você estava falando ou estou falando bobagens? Qualquer coisa, fala que eu te escuto :P
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