quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O Nadador

Fiquei um tempo sem postar, mas não sei direito o motivo. Já tinha essa postagem preparada há semanas. Enfim, ontem foi o meu aniversário, completei 19 anos de vida...Vou aparecer no blogue de vocês mais tarde. Abraço, pessoal.


Seu Zé não faz nada a não ser nadar em um rio. Parece que ele não tem escolha, nunca sai da água. É o seu forte.
Mas esse rio é tão arisco! Raso em alguns pontos, com pedras pontiagudas. Às vezes Zé rasga a barriga nelas, e quando ele menos espera o rio fica mais fundo, e mergulha fundo, quase se afoga. O rio também é meio estreito, em seus arredores existem vários galhos espinhosos que não raramente arranham-lhe os braços. Os galhos se sustentam no ar. Aos arredores do rio existe apenas o nada, não tem chão. Seu Zé só pode nadar. Ele nada até o final, como é a sua vida toda de percurso, talvez esteja perto de alcançar o fim.
Seu Zé tem apenas vinte anos, e chegou lá agora, primeira vez. Nos arredores ainda tem nada, mas na frente, na pontinha, ele já pode sair do rio. Uma estrada estreita, mas é uma estrada. Seu Zé foi para ela.
Mas começa a chover. Zé consegue perceber que existe um céu nublado, em um cinza inexplicavelmente alegre. As gotinhas caem tortas em seu rosto. Ela é morna e alivia a pele. Escorrega pelos machucados. Seu Zé consegue sorrir pela primeira vez, antes ele fazia aquela cara típica de quem está se esforçando.
Então...
Seu Zé caminhou na chuva. Os machucados foram embora, ele já andava desatentamente, até que de repente, cai fundo em um rio que infelizmente, já era bem conhecido. O mesmo rio...E ele voltou a nadar. A saída era a mesma: a água. Sua vida tinha o mártir na água, e a salvação nela também. Não se pode fugir, o maior caminho é doloroso.

6 comentários:

marilia disse...

Hummm, texto novo... depois passo aqui para comentar...

Le Babiot disse...

Ei, cara, que coisa pouco costumeira, hehe, bem legal tuas descrições, " chuva morna que alivia a pele, quase que senti aqui, rapaz!!

Paulo Henrique Passos disse...

Parabéns, cara!!

Lendo esses teus textos, sempre muito enigmáticos e bizarros, num sei, mas eu fico pensando "pôxa, isso que é arte, isso é o que nos faz pensar porque num diz tudo na cara, isso que é sensibilidade". Muito massa ler esse tipo de texto escrito por um amigo; se o texto é um pouco distante, aproxima mais.

Abração.

CA Ribeiro Neto disse...

É verdade o que Paulo Henrique falou, da sensibilidade. Uma característica interessante dos textos do Hermes é a sensação de sarcasmo mesmo sem realmente haver, por exemplo a chuva torta caindo, acho que o Paulo Henrique explicou melhor quando descreveu como bizarro. Os textos tem um "q" de bizarro mesmo sem, de fato, ser.

Você chama de mártir, outros de sina, eu digo que é o caminho da vida mesmo, você pode nadar, como o seu Zé, ou pode boiar e deixar ser levado pela correnteza, se preocupando apenas de evitar, como puder, as pedras e os espinhos.

Abraço, mah, leva pra ler no próximo encontro do Eufonia.

A moça da flor disse...

uma espera que valeu a pena! ^^
muito bom! Tem uma vida dentro dele ao mesmo tempo que uma impossoalidade que permite que a gente se identifique.

belo conto!
;*

Giovana disse...

que lindo, hermes...

sempre, mas sempre vale a pena vir no seu blog para ver as novidades.