Maldita vontade de urinar. Odiava quando acordava de madrugada só para mijar. Sono. Tontura. Sede. Sede?Não, sede não. Por isso que acordava no meio da noite, bebia água de mais. Escuridão...
- Ai! – rosnou. Havia batido o pé na perna da cama.
Estranho, o chão estava escorregadio, foi o suficiente para escorregar. Bateu a cabeça no chão, antes de tropeçar conseguira apertar o interruptor da luz. Olhou ao redor, um líquido vermelho escuro, era isso que deixava o chão liso. Sangue! Era seu?! Ou da sua...onde ela estava?
- Felícia? Onde está você?!
Levantou-se. Desespero. Ela não estava lá, havia saído no meio da noite novamente? Sensação de que sua cabeça não estava mais no corpo.
- Ah! – gritou ao perceber que sua cabeça estava tombada ao lado do abajur. Que diabos era aquilo? O que estava acontecendo? Seu corpo estava todo fora do lugar, as mãos subiam agonizante no seu busto. Só podia estar tendo um pesadelo. Sim! Um pesadelo.
Os olhos estavam pesados. Abriu-os lentamente. A luz da lua entrava branda pela janela. Alívio. Foi um pesadelo, apenas mais um. Estava acostumado a tê-los. Felícia não estava na cama. Céus, então ela resolveu sair de madrugada? Não entendia esses hábitos noturnos da mulher. Ela estaria o traindo? Não, não era possível... amava-a tanto!
Resolveu caminhar para aliviar a angustia da espera pela mulher. Mãos no bolso, cabeça abaixada. Tirou as mãos do bolso, esfregou-as no ombro. Frio. Queria abraçar Felícia agora. Que droga! Ela sempre sumia nas noites de lua cheia, sempre foi assim. Desde que casara com ela. Silêncio. Até que era bom caminhar nessa hora. Sim. Era bom sim. Será que era isso que ela fazia? Caminhar?
Casa, prédio, casa, loja, casa, bodega do Chico, igreja, cemitério. Calafrio. Vontade de entrar no cemitério, nunca tinha visitado um em plena meia-noite. Empurrou o portão repleto de ferrugem do local. Barulho clássico de portas metálicas velhas se abrindo. Adentrou no local. Um frio percorreu a espinha desembocando no crânio. Passou as mãos na face, estava congelando. Continuou a observar o cenário. Não ouvia nenhuma coruja, não via nenhuma bruxa malvada comendo mortos, não via nenhum vampiro. Pena! Zombou ele. Túmulos e mais túmulos, crucifixos, pequenas construções velhas, nada de mais, pareciam todas iguais. A que se destacava era uma em que sua mulher estava no topo com uma face cadavérica na mão, mastigava algo. Nada de mais. O quê?! Mas que porra erra aquela? Não acreditava no que via. Era tudo tão real que não podia achar que era um pesadelo mais uma vez.
Os olhos dela brilhavam. Ao seu redor, vários pedaços cadavéricos de corpos. Ela se deliciava agora com um gordo pedaço de perna. Seu semblante era interessante, ele não se lembrava de ter visto Felícia fazer tal cara. Nem quando ela estava em estado de orgasmo. Então era isso que ela andava fazendo em todas essas madrugadas? Talvez fosse melhor um par de chifres...
- Felícia! – sua voz estremeceu, perfurando os ouvidos da mulher. Felícia exibiu um olhar de criança quando é pegue comendo doce escondida. Ela deu um salto, soltando um grito assustador. Nesse momento, uma nuvem bloqueou a luz da lua. Maldição, que ótima hora para ficar escuro (quer dizer, mais escuro). Foram segundos, mas foram longos segundos. Quando a luz tímida da lua abençoou o cemitério, Felícia pousou de seu salto. Ao menos era para ser ela. Caiu de quatro, as patas fincaram no solo. Patas?! O que era aquilo? Felícia, ou melhor, era uma mula! Uma mula branca. Espera...ela não tem cabeça! Deus, porque não fiquei dormindo? Deve ter pensado o pobre rapaz. No local que devia ficar a cabeça, havia apenas uma coisa fantasmagórica. Ardiam
2 comentários:
Ow!!Me amarrei no conto...poderia ter continuação.
Uma mistura de fantasia, alucinação, terror...achei interessante.
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