sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Stop

São tempos difíceis. Realmente vivemos na crise da violência, como gostam de chamar alguns jornalistas. Sem querer tirar o mérito dos profissionais, esse nome é bem simplificado para expressar todo o terror que vivemos.

O intelectual da filosofia ou da ciências sociais vai ficar logo por sobreaviso que o que vivemos, ou o que vivo, não se refere apenas a classe alta ou até mesmo média. Eu, uma pessoa de condições humildes, mas satisfatórias, não tenho muito, para se resumir ao que usamos casualmente como coisa material. É, não tenho muitos bens capitais. Pois sem ser nesse âmbito, eu tenho muito sim. Muito a perder...Minha vida, meus amores.

Estou aparentemente angustiado. Prefiro ficar em casa aos cuidados das paredes. A noite? Ela é ótima para se ficar em casa. A qualquer hora posso sofrer uma violência. Nesse ano já mutilaram minhas esperanças algumas vezes. Nunca tinha sido assaltado, e apenas nesse ano aconteceram os casos. Foi um impacto. Um choque de realidade. Depois do choque, apareceram os casos e casos, não, não é só em São Paulo ou Rio de Janeiro. Fortaleza está caótica. E fomos nós que construímos isso. Ou foram eles, do passado. Quem sabe? Para aqueles que estão acostumados com a violência esse relato e nada podem ser a mesma coisa. Banalizaram. Assim como vemos homens dormindo na rua, bebendo água suja, imunda, venenosa, e não nos tocamos. Afinal, pensamos, não há ninguém lá. É tanta violência...De todas as formas. Um tiro qualquer, por nada, quem reagiu? Ninguém. Apenas o ser que não tem vida, tirou a vida de quem tem. A vida só vale para quem tem? Ou só vale para quem a tem?

A vida é palpável. A minha é. Não quero perdê-la, e por isso estou mais em casa ainda. Fechado. Os bestas chamam isso de abstração. É, talvez seja sim. Seu besta. Seu banal. Já se acostumou e nem se incomoda mais em ser fodido. O outro, não tá nem aí, o que digo é apenas a expressão de uma classe abastecida de dinheiro que não faz nada senão tirar o dinheiro dos que tem pouco. E nós, aqui, trabalhamos duro, nossos pais trabalham duros, os poucos honestos desse país trabalham dolorosamente para nos suprir com o necessário, e nos tomam, nos tomam o minguado, o que é pouco. Se for assim, roubem ao menos dos que têm de mais. Aí talvez, para eles, não faça falta. Mas vida faz. Ah, mas ladrão de celular não ler mesmo.

E por aí, pelas ruas continuaremos a ver cenas do tipo:

Eles se beijam. Um pega o rumo de casa, o outro já entra em casa. O que está lá fora, de carro, ruma para sua casa também – o templo seguro – e tenta pegar o caminho tranquilo. O abordam antes de entrar no veículo, roubam o carro com ele dentro, apagam alguém vivo, muito vivo, e depois para não serem reconhecidos, no meio do nada, apenas do caos, atiram na cabeça do moço. O cidadão brasileiro. Ele morre. Jogam a chave do carro fora, e pegam carona com outro ser afilosofado. O cara morto.

Eu em casa, lendo algum poema que só agora faz sentido:

stop

a vida parou?

ou foi o automóvel?

9 comentários:

Anônimo disse...

Um puxão de orelha dos grandes.
Realmente acho que houve uma banalização da violência, por demais. Sim: muita banalização e/ou/para muita violência. Só o que vemos é [por exemplo] Rota 22 em pleno meio-dia, enquanto almoçamos (muito estimulante!), e, sem ofensas e preconceitos contra times e torcidas, mas com objeção às atitudes, vemos os TUF e Cearamor pulando atrás, querendo aparecer na TV, enquanto há um corpo ensangüentado estirado no chão em frente a eles. Então, de fato, "não há ninguém lá". Só pode.
E, infelizmente, meu amor, estivemos duas vezes nesse barco que afundou nossos ânimos.
É verdade. Já pensou se todos esses ladrões de celular tentassem roubar Collor, Calheiros, ou Palocci?
Hah! Um ladrão roubando o outro!

Eu sempre conjecturei para entender o significado desse poema, mas o resultado não era muito satisfatório, profundo. No máximo, um bebum, um irresponsável, ou um bebum irresponsável. Essa sua interpretação achei muito digna, e acho que a aderirei à minha caixinha de pensamentos.

Tr00 demais <3

Obs.: Sei que quando 'cê diz que tem a perder sua vida e, mais precisamente, aos seus amores, percebo que tem muito mais amores na sua vida além de mim, o que não significa exatamente pessoas, e, ainda, mulheres, interrelações. Em resumo: compreendi a intenção. u_u

Paulo Henrique Passos disse...

Alguns podem chamar de repetitivo, podem dizer que é balela, mas acho que a diferença tá na forma de mostrar isso - poeticamente. Diferente dos jornais, o fato aqui é tratado com os sentimentos, e essas palavras nos faz realmente perceber, mais até que as imagens do "Rota 22", o que de fato acontece. É sério, viu.

"A vida só vale para quem tem? Ou só vale para quem a tem?" Essa pergunta foi fodástica! Muito boa.

E esse poema do Drummond - poxa! - agora deu bem mais impacto do que antes - olha que o impacto de antes foi grande.

CA Ribeiro Neto disse...

A,D,S,X é as iniciais das crônicas que quero postar. coloquei lá pra não me esquecer! ehurheuruh

Agora vou ler seu texto.

CA Ribeiro Neto disse...

"A vida só vale para quem tem? Ou só vale para quem a tem?" Essa pergunta foi fodástica! Muito boa.[2]


Meu amigo, me considero com autoridade suficiente para lhe dizer: que bela crônica!

Você fez uma crônica como manda o figurino. se um dia não souberem o que é uma crônica, eis o exemplo.

Agora, tenho que discordar do começo do texto. Eu me recuso a me prender por medo deles. Respeito sua posição, mas a minha liberdade ninguém toma. Continuo andando por onde eu quiser até ficar nu!


Nessa quinta tem crônica minha pra vc! heurheurheuh

Thiago César disse...

axo q essa cronica realmente nos faz abrir os olhos para o caos q jah banalizamos....
aí, no final a gente percebe q realmente "nao era pra ser assim".

Mehazael disse...

Cara, essa é a minha opinião desde que tenho, sei lá, uns 12 anos, que foi quando fui assaltado pela primeira vez. Desde então foram várias, nem lembro mais se foram ou 3, 4 ou 5 vezes. Sem contar as vezes em que consegui escapar, fugir, sei lá. Que foram mais do que as vezes em que fui pego. Às vezes de surpresa, às vezes nem tanto. E o pior foi a última. Eu já estava tão acostumado que só falei com o meu pai e fomos comprar um celular novo. Fim de história.
Eu me mordo de raiva só de pensar em mim, em como eu já estou acostumado a isso, e raiva de mim por não saber o que fazer (se é que tem algo a ser feito) para mudar essa situação, para que não seja mais situação. De repente a saída seja ir embora mesmo; vai ver a grande revolta seja dar as costas e ir embora. Para bem longe.
Ou talvez eu esteja sendo muito dramático, mas agora tu me tocou num tema profundo (até por eu já ter sido vítima várias vezes e conhecer outras tantas pessoas assim). Parabéns, texto bom é o que mexe com a gente mesmo.
E final perfeito, diga-se de passagem.

Mehazael disse...

Está aqui a tradução do texto que comentei no blog do Thiago:

"Quem jamais matou uma hora? Não casualmente ou sem pensar, mas cuidadosamente: um assassinato premeditado dos minutos. A violênia vem de um misto de desistência, desinteresse, e uma resignação ao fato de que avançar [no tempo] é tudo o que você pode alcançar. Então você mata a hora. Você não trabalha, você não lê, você não sonha. Se você dorme, não é porque sinta sono. E quando enfim terminou, não há evidência: não há arma, não há sangue, e não há corpo. A única pista pode ser a sombra sob os seus olhos ou uma linha terrivelmente fina próxima do canto de sua boca, indicando que algo foi sofrido, que na privacidade de sua vida você perdeu alguma coisa, e a perda é vazia demais para se dividir".

Bulaxa disse...

E eu endoidando com essa putaria de vestibular, ai ai.
Valeu aí, Hermes.

Anônimo disse...

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